10 outubro, 2011

Bells Beach e o Surf World Museum - Australia



Bells Beach e o Museu do Surf de Torquay, Victoria, Australia


Bob McTavish - Big Bells, 1965. Foto: John Witzig,
fundador da revista Tracks.
Bells Beach tem uma mística. Algo que foi construído no campeonato de 1965, pela Natureza e pelos próprios surfistas australianos, e que foi espalhado pelo mundo. Em 2011 a competição de Bells Beach completou 50 anos de vida (começou em 62, ideia dos locais Peter Troy e Vic Tantou), sendo provavelmente o evento mais tradicional do mundo do surfe, mesmo considerando o Havaí como palco principal desse esporte e estilo de vida.

Uma das salas do Surf World Museum. Chega lá!
O museu do surfe, em Torquay, cidade onde se localiza Bells Beach, no estado de Victoria, dedica boa parte de suas instalações à comemoração dos 50 anos de vida desse campeonato.






Big Bells 1965 - Um pouco da história de Bells Beach

A foto mais antiga com pessoas no lado sul de Bells, Addiscott Beach, 1912, com
alguns membros da família Bells. Fonte: Torquay Historical Society (Chris Barr).





Big Eastern Sunday, 1965, no dia em que Bells
virou lenda. Foto: Barrie Sutherland.



Poucas pessoas sabiam o que as esperava em Bells em 1965. O feriado da páscoa, época em que acontecem determinadas mudanças climáticas que trazem grandes ondulações para essa parte do mundo, seria mais tarde naquele ano. Por volta do mês de abril, sistemas de baixa pressão passam pelas baixas latitudes do hemisfério sul mandando possantes ondas de energia que se traduzem em pesadas ondulações (os groundswells). Na ocasião, uma mudança no vento, de sudoeste para noroeste, providenciou o terral perfeito. Completando o cenário, um swell de pelo menos 20 pés chegou na Surf Coast construindo a reputação que Bells Beach tem até hoje no cenário internacional do esporte, algo que vai muito além do surfe como um esporte de competição. Tem gente que diz que o cara só se torna um verdadeiro surfista depois que ele surfa essas ondas…

Reza a lenda que essa é a primeira prancha
de Peter Troy, de 1949. Ele que é reconhecido também
na Asutrália como um dos introdutores do surfe
no Brasil (será que os australianos
o vangloriam por isso?!).
A recém formada Australian Surfriders Association (ASA) tomava conta do evento na época, depois da saída de um de seus idealizadores, Peter Troy, que havia partido em sua épica aventura surfística pelos mares do mundo.

Alguns competidores do estado de New South Wales vieram para Bells nesse ano, caras como Nat Young, Mick Dooley, Robert Conneeley e Bob McTavish. O domínio foi deles. Os locais estavam bem representados, segundo as informações do museu, por Rod Brooks, Terry Wall (vice na edição inaugural do evento, que foi vencido por Glynn Ritchie) e Pat Morgan entre muitos outros.

O evento foi descrito como o melhor campeonato de todos os tempos, com as maiores ondas já vistas em competições fora do Havaí. Robert Conneeley foi o campeão, superando Nat Young. O local Jeff Watt terminou em terceiro, tendo sido o competidor que pegou mais ondas durante a final. Segundo Bob McTavish foi nesse campeonato que ele sofreu o maior caldo da sua vida de mais de 50 anos de surfe.

Bells goes Pro - 1973 (profissionalização do campeonato)

Bells - 1967
Em 1973 a prova de Bells Beach começou a oferecer um prêmio de 2500 dólares para os competidores, além de ter colocado em prática um novo sistema de julgamento de "pontuação por manobras". Além do início do envolvimento da marca Rip Curl como a patrocinadora, foi nesse ano que surgiu a lenda Michael Peterson (MP), surfista que veio da Gold Coast, no início do que seria um período de sua completa dominação no cenário das competições australianas de surfe. Michael se destacava por um surfe descrito como excitante, elétrico, caracterizado por uma base sólida sobre a prancha e rápidas mudanças de direção, fora a técnica para os tubos.

Dizem que ele estudou, analisou e se habituou bem às novas regras das competições. Se mais manobras levassem a mais pontos, ele simplesmente faria mais manobras do que todos os outros. Segundo suas palavras: "Eu simplesmente não queria parar, eu fazia zigzag entre meus próprios zigzags". O primeiro campeonato profissional de surfe foi vencido por MP. Sua tática dava certo. Ele foi o campeão em Bells por três vezes na década de 70.

O Rip Curl at Bells Beach foi estabelecido como a prova pioneira do surfe profissional australiano, logo recebendo a companhia do Sydney's Coke 2SM Surfabout e depois do Stubbies, que acontecia em Burleigh Heads. Assim se formava a perna australiana do novo circuito "mundial" de surfe profissional.

Bells Simon's Thruster 1981 - e Simon Anderson criou a triquilha…

A original thruster que foi
usada em Bells em 1981.
Depois de alguns anos com a competição de Bells rolando em ondas nada espetaculares, 1981 foi um ano considerado pivô em toda sua história. Foi anunciado na TV, na noite anterior ao evento, que o mar estava subindo. O sábado do feriado da páscoa amanheceu com ondas enormes, as maiores desde 1965. A correria foi grande pelos arredores de Torquay em busca do equipamento ideal para aquelas condições.

Esse foi o cenário para a chegada do surfista de Narrabeen, Simon Anderson, que já havia vencido em Bells em 1977. Mas naquele ano ele estava prestes a dar início a uma nova era no surfe.  Simon, que até hoje é um shaper (fabricante de pranchas), estava surfando com pranchas que tinham três quilhas, que ele deu o nome de "thrusters". E nas condições extremas de Bells em 81 ele provou o potencial da sua invenção e as vantagens que o design das thrusters tinham em relação às biquilhas, as mais populares na época. Ambas eram rápidas, mas as triquilhas se provaram mais estáveis, permitindo que se exercesse mais pressão sobre a prancha sem fazer com que ela deslizasse ou saísse rodando pela parede da onda.

Simon Anderson de triquilha em big Bells.
Simon é até hoje um surfista talentoso (se liguem no livro que foi lançado contando a história das thrusters), mas o seu sucesso em Bells em 1981 teve muito a ver com sua nova criação. Desde então, apesar do atual retorno dos mais diferentes desenhos e formas de pranchas, as triquilhas se tornaram o tipo de prancha mais popular no mundo. Desde 1982, todos os campeões mundiais de surfe conquistaram seus títulos surfando com pranchas que foram uma transformação direta do desenho original de Simon Anderson para sua original thruster, usada em Bells Beach em 1981.



Kelly Slater venceu em Bells em 1994, 2006,
2008 e 2010.
Os campeões em Bells



Sapatada com mão na borda debaixo do lip.
Vitória do KS em Bells, 2006
O troféu do campeonato de Bells (um sino - o nome da praia se refere à família que era dona da então fazenda onde ela se localiza) é perpétuo (os campeões levam pra casa uma réplica) e ter o nome gravado naquela plaqueta é uma grande honra e motivo de respeito no universo do surfe. Kelly Slater, Mark Richards, Layne Beachley, Stephanie Gilmore, Andy Irons, Lisa Andersen, Tom Curren, Damien Hardman, Margo Oberg e Frieda Zamba têm, todos, alguns títulos mundiais e algumas vitórias em Bells.

Réplica do sino.
2002. Andy venceu Sunny. Tudo em casa.
A história continua com Mark Occhilupo, Mick Fanning, Tom Carrol, Martin Potter, Barton Lynch, Sunny Garcia, Pauline Menczer, Wendy Botha, Sofia Mullanovich, Lynne Boyer e Kim Mearing. Todos tendo sido campeões do mundo e vencedores do Rip Curl Pro de Bells Beach.

Nosso orgulho! Silvana Lima, 2009.
No caminho ela venceu a favorita
australiana campeã mundial
Stephanie Guilmore.



Outros competidores se destacaram, superando os campeões mundiais nessas ondas. Começo indo pra frente com a brasileira SILVANA LIMA, pra depois seguir na ordem dada pelo museu com Simon Anderson, Cheyne Horan, Joel Parkinson, Taj Burrow, Matt Hoy, Nick Wood, Jeff Hakman, Shane Dorian, Joe Engel, Richie Collins e Trent Munro.





1986 - Tom Carrol, primeiro goofy a vencer
em Bells na história. Tom Curren em segundo.
Todos certamente sentiram muita honra ao vencer esse campeonato. Destacando Gail Couper que venceu o Bells Easter Classic 10 vezes entre 66 e 77, tendo sido superado somente uma vez num período de 11 anos. Parabéns pelos 50 anos desse campeonato (1962 - 2011) e para todas as pessoas envolvidas nessa história. Gente que construiu vida e família tendo o surfe como principal atividade, seja dentro ou fora d'água.

Tom Curren - campeão em Bells em 1985 e 1990 (fonte: Data Surfe).




Obs: As informações desse texto foram extraídas das placas informativas sobre a história dos campeonatos de Bells Beach, em visita ao Surf World, como é chamado esse museu espetacular. As fotos foram feitas com autorização da equipe do museu.



Wayne Linch - lenda australiana com
história muito interessante


Bernard 'Midget Farrelly' - um dos sufistas/shapers de maior sucesso na Austrália
entre o final dos 60 e início dos 70. Vencedor do que foi considerado o primeiro
título mundial, em 64. Apesar disso Midget nunca venceu em Bells. Foi vice em 1970.


Antes na Kombi, hoje na Van. Esse é o estilo de vida de muita gente pela Austrália,
seja só para viajar ou mesmo para morar.

Próximas fotos: A evolução das pranchas no Surf World.






Relíquia do Mark Richards devidamente guardada
para a posteridade.


O surfista prateado na sala de vídeos...

Obrigado pela visita ao Surfe Pensado! Desculpe qualquer coisa!
Querendo entre em contato, será um prazer! Ficarei feliz com a chance de
consertar e assumir qualquer erro!

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