05 novembro, 2005

Estava há duas horas editando um texto a ser publicado aqui no Surfe Pensado. Fui salvar o bendito e perdi mais da metade do trabalho... Aproveito o impulso para publicar um texto antigo, que ainda é atual, pois foi assunto em papo recente sobre o trabalho que está sendo feito por algumas pessoas do Rio de Janeiro, que vem dando frutos, junto com os surfistas que vêm do Nordeste. A galera vem com garra, necessidade e encontra aqui gente que dá apoio e atenção e os resultados estão aí. Só vou citar um nome, sem fazer nenhum garimpo porque se não esse blog não será mais atualizado. Cito, por mais óbvio que seja, a Silvana Lima e aposto que ela será campeã mundial da ASP antes do Mineirinho.

Tá aí um texto publicado no itacoá.com em 23 de novembro de 2003.






Inspirado pela mensagem do Alexandre Buriti (leia!) e por um artigo escrito pelo Tito Rosemberg (http://www.titorosemberg.com/), na edição 126, da revista InsideNow, a gente dá início a mais uma montagem do projeto Surfe Pensado. O assunto? Chuta!

Por que o surfe não decola? Ou, por que o surfe não decola como nós, amantes do esporte, gostaríamos? Outra. Será a bitolação dos surfistas um fator que ajuda na construção de uma imagem distorcida do esporte?

Não é de hoje que eu acho que o bom surfista não deveria passar o dia inteiro pensando em surfe e malhação. Incluo aí, principalmente, o aspirante a surfista profissional, aquele que invariavelmente sonha com uma carreira internacional. Pode parecer besteira, mas já vimos grandes atletas sucumbirem à pressão de estarem em terras distantes, ouvindo línguas desconhecidas, carecendo de estrutura e não de surfe no pé para serem bem sucedidos.

Surfista precisa de educação, de escola, de curso de inglês, francês ou espanhol... Precisa se relacionar com o mundo que existe do lado de fora do ambiente da praia. É difícil para um moleque perceber isso, mas é fácil (deveria ser) para uma marca patrocinadora ter a visão de que a imagem do surfe ficará mais nítida (lucrativa na língua empresarial) quando nos campeonatos (e no dia-a-dia) seus atletas se expressarem melhor para o resto do mundo. Toda empresa patrocinadora de atletas amadores deveria ser responsável pelo custeio de uma parcela da educação dos mesmos. Isso deveria estar escrito em lei, deveria ser uma ideologia.

É aí que coloco as palavras do Tito Rosemberg: “Não há nada mais importante na vida de uma pessoa do que diversificar seus interesses. E não há nada mais triste do que um surfista brocha porque as ondas não estão acontecendo”. O artigo citado teria mais a ver com o assunto ‘surfe X terceira idade’, mas não consigo deixar de associar suas palavras à necessidade que os surfistas devem ter pela eterna busca não só por ondas, mas por outros assuntos, outras disciplinas. Afinal, agora o surfista deixou de ser o hippie, que constantemente colocava o pé na estrada, para ser o esportista, que continua viajando para outros oceanos, só que na cobiça por pontos no ranking e dinheiro no bolso.

Olha eu aqui dando dica pra capitalista: o cara ‘acha’ um atleta promissor, banca ele no surfe, tira ele um pouco da praia, por obrigação, para que o garoto(a) estude e aprenda uma segunda língua (nota de hoje: além do português e um pouco de cultura geral). Esse atleta será favorecido para o resto da vida, mesmo no caso (quase certo) dele não se tornar um dos 45 membros da elite mundial.
Mas qual será então o retorno? Vem na imagem, em longo prazo, que será construída, de praticantes/pessoas mais conscientes, que passarão para a sociedade uma imagem em transformação (e não estagnada) do esporte, o que acarretará em mais apoio para projetos e eventos, em mais consumo e até, entre outras inúmeras vantagens, numa melhor cobertura do esporte por parte da mídia, não só a especializada. Sem falar que esse então adolescente, depois da carreira como surfista profissional, poderá ser mão de obra mais que especializada para a própria empresa e o mercado do surfe em geral. É como se fosse a mão invisível reguladora dos mercados.
Essa conscientização tem que partir da praia e seguir para o mundo das competições. Nesse caso não adianta ter médico, dentista, promotor de justiça, engenheiro ou juiz praticando o surfe. A imagem que a sociedade tem do esporte é formada pelos seres que movem o surfe como instituição (surfistas amadores e profissionais, patrocinadores e organizadores de competições e etc.) e não pelos que praticam o surfe apenas como um estilo de vida, como uma válvula de escape ou coisa parecida.

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A coluna Surfe na Terceira Idade repercutiu algumas mensagens. Clique aqui para conferir alguns trechos das manifestações e não hesite em mandar a sua opinião, crítica ou sugestão.

Até!

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